‘Garagem fecha as portas’: Unilever desativa hub de inovação aberta no Brasil
Plataforma, que nasceu em 2018 como um espaço para dialogar com o ecossistema de inovação, mapeou 1.500 startups e gerou projetos para as marcas; empresa disse que ‘atividades aram a integrar as agendas das unidades de negócios’
'Garagem fecha as portas': Unilever desativa hub de inovação aberta no BrasilUnilever promove alterações nas suas iniciativas de inovação no Brasil (Foto: Peter Boer/Bloomberg)(Peter Boer)
Bloomberg Línea — A Garagem Unilever, projeto da gigante global de bens de consumo e dona de marcas como Ben&Jerry’s, Omo e Hellmann’s, funcionou por anos como cartão de visitas de uma companhia centenária que se mostrava aberta a novas teses e ideias trazidas por empreendedores.
Criada em 2018, a iniciativa, com um conceito de always on, teve um fim silencioso nos últimos meses, segundo fontes disseram à Bloomberg Línea.
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A plataforma nasceu como um espaço para dialogar com o ecossistema de inovação, mas também para oxigenar as áreas internas, promovendo o intraempreendedorismo, e pensar em novos negócios. Nesse processo, o hub assumiu o papel de mapear startups, em substituição aos programas de aceleração da Unilever.
Ao longo dos últimos anos, a Garagem mapeou mais de 1.500 startups, fez provas de conceito (POC) com cerca de 30, das quais 54% foram convertidas em negócios para a companhia.
Um dos principais cases foi desenvolvido para a Kibon, que buscava adotar veículos de energia limpa para a distribuição de sorvetes. Após uma POC, a marca de sorvete fechou a parceria com a startup GreenV, com o objetivo de fazer a distribuição em todas as rotas metropolitanas com uma frota elétrica até 2026.
Pouco antes de ser fechado, o hub estava em um momento de ascensão e de maior visibilidade nos últimos meses, segundo as fontes.
Por meio de patrocínios, esteve em eventos como o HackTown, festival que acontece na cidade mineira de Santa Rita do Sul; o Afrofuturismo, na Bahia, e na Campus Party, em São Paulo e em Recife.
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Ainda no fim de 2024, um livro foi produzido para traduzir a linguagem e marcar as conquistas do espaço. Batizado de “Experimentação, Ação e Inovação”, o projeto selou o último capítulo da divisão.
Segundo as fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, o fim do projeto Garagem está relacionado com a reestruturação global da companhia, que trocou de CEO nos primeiros meses deste ano - Fernando Fernandez substituiu Hein Schumacher - e tem direcionado os esforços para as marcas de alta performance.
O hub funcionava com quatro pessoas exclusivas e com dedicação integral. Recebia ainda profissionais de outras áreas, a partir de um projeto global chamado “Flex”, em que ficavam alocadas por tempo determinado e por projetos.
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Do quadro fixo, alguns profissionais foram desligados da companhia, e outros, transferidos para outras áreas. Cecília Varanda, que liderou a iniciativa desde o início, teria saído por motivos pessoais antes de a Unilever decidir fechar a área.
Procurada pela Bloomberg Línea, a Unilever respondeu com uma nota por meio da sua assessoria de imprensa.
“Desde o início de 2025, as atividades antes desenvolvidas pela Garagem Unilever aram a integrar a agenda perene de cada uma das unidades de negócio - alimentos, beleza e bem-estar, cuidados com a casa e cuidados pessoais”, afirmou a empresa em comunicado.
“As frentes aram a ter mais autonomia para conduzir suas iniciativas relacionadas à inovação, a fim de tornar os processos mais ágeis, simples e focados nas necessidades dos clientes e consumidores.”
A companhia não respondeu a uma questão específica sobre o impacto do fim do garagem em projetos e parcerias que estavam em andamento.
Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula agens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark