Nova empresa funcionaria já em 2026, diz CEO da Azul sobre fusão com a Gol

Em entrevista à Bloomberg Línea, John Rodgerson afirmou que as sinergias e os ganhos de escala da nova companhia beneficiariam investidores e clientes, além da indústria local, como a Embraer

John Rodgerson, CEO da Azul
16 de Janeiro, 2025 | 05:51 AM
Últimas cotações

Bloomberg Línea — A nova empresa resultante de uma potencial união entre a Azul (AZUL4) e a Gol (GOLL4) já funcionaria em 2026, afirmou o CEO da Azul, John Rodgerson, em entrevista à Bloomberg Línea.

O executivo destacou a avaliação de que o negócio representa uma grande oportunidade tanto para o investidor quanto para os clientes. “O Brasil tem desafios enormes de câmbio, preço de combustível, excesso de processos judiciais. Essa é uma oportunidade para unir as empresas e reduzir o custo do capital. Trata-se de duas marcas muito fortes com habilidades para crescerem juntas.”

PUBLICIDADE

A Azul e o Abra Group, principal acionista da Gol, anunciaram na noite de quarta-feira (15) a de um Memorando de Entendimento (MoU) não vinculante com a intenção de combinar seus negócios no Brasil.

Leia mais: Com dólar alto, Azul se prepara para cenário persistente de custos mais elevados

Segundo o comunicado, espera-se que as duas aéreas mantenham seus certificados operacionais e, portanto, continuem com as operações e as marcas separadas. O plano é que a nova empresa combinada alcance mais de 200 destinos no Brasil.

PUBLICIDADE

Rodgerson ressaltou que os últimos anos têm sido desafiadores, com os efeitos da pandemia a partir de 2020, desvalorização cambial, gargalos e atrasos globalmente no fornecimento de aeronaves e enchentes no Rio Grande do Sul. “É uma maneira de fortalecer o mercado de aviação no Brasil.”

O executivo disse que a sobreposição de malhas da Gol e da Azul é de apenas 10%, o que não deveria, em tese, criar grandes desafios para a aprovação da operação no Conselho istrativo de Defesa Econômica (Cade).

Segundo ele, espera-se que a Gol conclua o processo de reestruturação pelo Chapter 11 nos Estados Unidos (equivalente à recuperação judicial no Brasil) em meados de abril ou maio deste ano. Apenas após o encerramento do procedimento que o Cade deve começar a julgar a união com a Azul.

PUBLICIDADE

Ele acrescentou que os trâmites de julgamento no órgão antitruste devem demorar de seis a nove meses, mas que a ideia é começar o processo de negociações no Cade desde já.

“Estamos entrando agora [no Cade] porque queremos tocar o processo ao mesmo tempo em que a Gol está saindo da recuperação judicial. Não queremos perder os próximos cinco meses”, destacou Rodgerson. “A ideia é que em 2026 a nova empresa já esteja funcionando”, acrescentou.

O executivo ponderou a oportunidade de oferecer mais conexões entre a malha regional da Azul e a da Gol, que, por sua vez é expressiva em Guarulhos, Congonhas e Brasília. “As marcas vão continuar [operando] separadas, mas devem juntar o backoffice e ganhar escala em compras”, disse Rodgerson.

PUBLICIDADE

Leia mais: Azul e Abra Group, acionista da Gol, assinam memorando para potencial fusão

Pelo acordo, a nova empresa a ser criada vai controlar a Azul e a Gol, com a Abra como maior acionista, com mais de 10% de participação na companhia combinada.

Por um período inicial de três anos a partir do fechamento do acordo, o presidente do conselho da nova empresa será indicado pelo Abra Group, e o CEO, pela Azul. Outros membros da equipe de istração serão indicados em comum acordo.

Já o conselho de istração será composto por nove membros, com mandato inicial de dois anos, com direito à reeleição. Serão três conselheiros nomeados pela Abra, três pela Azul e três independentes.

A Abra controla a Avianca, maior companhia aérea da Colômbia. “Sendo a Abra a principal acionista da nova empresa, talvez possamos fazer novos acordos. a própria Gol já tem um plano de sinergias com a Avianca que podemos ter na nova empresa também”, disse Rodgerson.

Endividamento

Rodgerson lembrou que a Gol a há um ano pelo processo do Chapter 11 e que a Azul concluiu um refinanciamento de dívida recentemente com o objetivo de reduzir a alavancagem. Nesse contexto, ele afirmou que os investidores não querem que a nova empresa já nasça muito alavancada.

As partes concordaram que a combinação de negócios resultará em um “nível de alavancagem líquida da entidade combinada que será, no mínimo, comparável ao patamar de alavancagem líquida da Gol no momento da operação e após a consumação de seu plano de reorganização”.

Ainda não há uma definição sobre como a nova empresa será negociada na B3.

“É uma oportunidade de fortalecer ambas as empresas. A Gol tem um ótimo plano, mas juntos somos mais fortes, e, para o investidor, é muito melhor porque há sinergias, redução do custo de capital e habilidades para conectar ageiros”, afirmou o executivo.

Sobre o risco de concentração no mercado, Rodgerson foi taxativo. “Ninguém fala da Lufthansa na Alemanha, da Air na França ou da Air Canada no Canadá. Ou até da Latam no Chile e da Avianca na Colômbia. Esses países entendem que é positivo ter um player forte [no mercado]”, disse.

Ele reforçou a mensagem de que, em sua avaliação e dos acionistas do Abra Group, essa é uma oportunidade de fortalecer a indústria local, como a Air faz sendo uma das maiores compradoras da Airbus. “A Azul e a Gol seriam os maiores compradores da Embraer no mundo.”

Leia também

Esta empresa brasileira atraiu a DHL para competir no transporte aéreo de carga

De Brasília a Rosário: mercados secundários impulsionam o setor aéreo em LatAm

Adeus, primeira classe: como este grupo de catering se adequa à demanda das aéreas

Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem agens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.