No ‘país da renda fixa’, B3 prepara novos produtos para ampliar os negócios
Em entrevista a jornalistas, Gilson Finkelsztain, CEO da B3, destacou a evolução do mercado de dívida local como alternativa às ações e contou quais as iniciativas no ‘pipeline’ da bolsa brasileira
No ‘país da renda fixa’, B3 avalia novos produtos para ampliar os negócios |A B3 reforça o posicionamento como plataforma de infraestrutura financeira para além da renda variável (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg)(Bloomberg/Victor Moriyama)
Bloomberg Línea — Os últimos três anos foram de baixo número de ofertas para o mercado de ações do Brasil, que não vê um IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) desde 2021.
A B3, bolsa de valores de referência do Brasil, enfrenta um cenário desafiador com a escassez de novas ofertas. A ausência de IPOs reduz o potencial de liquidez e receita para a bolsa, mas o principal desafio é que o cenário seja interpretado como sinal de desconfiança no mercado de capitais.
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Para Gilson Finkelsztain, CEO da B3, no entanto, essa não é uma interpretação adequada. “O mercado de capitais brasileiro definitivamente não está parado. Hoje, ele é a principal fonte de financiamento de grandes empresas no Brasil”, afirmou na última sexta-feira (7) em evento com jornalistas.
O executivo não se referiu ao mercado de ações mas à renda fixa: 88% do valor recorde de R$ 783,4 bilhões captado pelas empresas no mercado de capitais em 2024 se deu por meio de produtos do segmento. Os dados são da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
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“Tivemos o melhor ano da história da renda fixa no Brasil. Isso é muito relevante porque nós criamos, definitivamente, o mercado de dívida local”, afirmou Finkelsztain.
A declaração do CEO da B3 (B3SA3) reforça a estratégia da companhia em se colocar como uma plataforma com infraestrutura financeira que vai além dos serviços de bolsa ou de renda variável – posicionamento cuja mensagem já havia sido reforçada para os investidores no B3 Day do último ano.
Para 2025, os planos da companhia da B3 envolvem aumentar o campo de atuação em setores em que exista maior demanda, sendo a renda fixa uma das prioridades.
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Uma das ambições é o desenvolvimento de um mercado de derivativos de crédito que possibilitaria, por exemplo, a venda de instrumentos de proteção contra o calote de dívidas de uma empresa.
Gilson Finkelsztain, CEO da B3: bolsa teve protagonismo no desenvolvimento do mercado de dívida local (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg)
Antes disso, a B3 pretende lançar, neste ano, operações de aluguel de debêntures, que devem aumentar a liquidez no mercado secundário e abrir as portas para os derivativos no setor.
“Continuamos sendo o país da renda fixa, mas de forma muito mais sofisticada do que a que tivemos nos últimos dez anos”, disse o executivo.
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Enquanto isso, o mercado de renda variável aguarda um cenário macroeconômico mais favorável para a retomada de apetite de investidores.
Finkelsztain reforçou a necessidade de uma inflação mais perto da meta e de alívio na curva de juros como pré-condições essenciais para uma potencial retomada do interesse pelo mercado de ações.
Estrangeiros, criptos e commodities
Para além da renda fixa, a B3 planeja outros lançamentos para 2025. Um deles é o acordo com plataformas internacionais para facilitar a negociação de derivativos e ações do Brasil no exterior, facilitando o o da pessoa física ao mercado local – sejam estrangeiros ou brasileiros que vivem no exterior.
O grande entrave atual para esse investimento, segundo o CEO da B3, é o custo e a complexidade em manter uma conta no Brasil, que pode custar entre R$ 40 mil e R$ 50 mil anuais para uma pessoa física.
“[Com as plataformas], diminuiu o potencial custo de o. A pessoa física vai conseguir á-los diretamente”, explicou.
As tratativas mais avançadas estão sendo feitas com a plataforma global Interactive Brokers, que tem 4 milhões de clientes. O lançamento está previsto em um prazo de dois a três meses.
A B3 também tem planos de aumentar a oferta de contratos futuros de criptoativos, hoje restrita ao bitcoin. Os planos são lançar futuros para criptomoedas como solana e ether ainda neste ano.
Em commodities, existe espaço para avançar no mercado de soja e minério de ferro, mas há um desafio de atração de investimentos, segundo o ele.
“Acaba sendo um mercado mais limitado aos [investidores] locais porque, historicamente, é muito difícil atrair a liquidez global”, afirmou Finkelsztain. Uma das alternativas seria por meio de listagem cruzada com bolsas internacionais, algo que vem sendo estudado pela B3.
Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem agens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.