De Walmart a Amazon: stablecoins ganham apelo como alternativa a taxas de cartão

Varejistas nos EUA estudam maneiras de utilizar tokens de criptomoedas como um meio de tornar sistemas de pagamentos mais rápidos e íveis, em desafio ao modelo consagrado por Visa e Mastercard, que também investem na tecnologia

A Circle, plataforma de emissão de stablecoin, completou seu IPO na Bolsa de Nova York com demanda de investidores muito superior à oferta (Foto: Michael Nagle/Bloomberg via Getty Images)
Por Emily Mason
14 de Junho, 2025 | 04:54 PM

Bloomberg — As stablecoins se tornaram uma das palavras de ordem mais quentes no mundo das finanças nos últimos tempos.

Nos Estados Unidos, legisladores estão prestes a aprovar as primeiras diretrizes para o uso convencional das criptomoedas criadas para espelhar o dólar.

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Todos, de bancos a empresas de valores mobiliários e fintechs, estão experimentando os tokens de criptomoedas como um meio de tornar os sistemas de pagamento mais rápidos e baratos.

Aparentemente, isso inclui até mesmo o Walmart e a Amazon, segundo noticiou o Wall Street Journal na sexta-feira (13).

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Mas, para a maioria dos varejistas, as stablecoins são mais provavelmente a mais nova avenida para ganhar força em uma disputa de longa data com empresas como Visa e Mastercard sobre as taxas que os comerciantes pagam para aceitar cartões de consumidores.

Nos EUA, a maioria dos consumidores tem cartões de crédito ou débito que oferecem conveniência, proteção contra fraudes e, no caso de produtos de crédito, programas de recompensas.

As conveniências do cartão de plástico - ou sua versão digital - são úteis para os consumidores, mas frustram os comerciantes que pagam taxas de processamento de cartões a bancos e redes como Visa e Mastercard.

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Além disso, os fundos das transações com cartão podem levar alguns dias para serem depositados nas contas dos comerciantes.

“A razão pela qual as taxas são tão altas é que a Visa e a Mastercard organizam os bancos de todo o país na definição do dicionário de um cartel de preços e dizem a eles quanto cobrar dos comerciantes”, disse Doug Kantor, conselheiro geral da Associação Nacional de Lojas de Conveniência.

“O resultado é que todos esses bancos, que deveriam ser concorrentes, não competem no preço que cobram dos comerciantes para aceitar um cartão.”

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As redes de cartões dizem que estão tomando medidas proativas para serem os principais fornecedores de infraestrutura no ecossistema de stablecoin.

No ano ado, a Visa anunciou uma plataforma para ajudar os bancos a emitir seus próprios tokens apoiados em moeda fiduciária.

Mais recentemente, a empresa acertou uma parceria com a unidade Bridge da Stripe para permitir que as empresas lancem cartões vinculados a stablecoin.

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A Mastercard, por sua vez, recentemente adicionou e de liquidação de stablecoin para comerciantes.

A Mastercard encaminhou à Bloomberg News uma declaração no mês ado em que o diretor de produtos Jorn Lambert disse que “desbloquear isso é fundamental para a forma como navegamos no mundo em rápida mudança, dando às pessoas e empresas a liberdade que desejam, fornecendo as opções que merecem”.

Um representante da Visa não respondeu a um pedido de comentário.

Enquanto isso, a Shopify anunciou nesta semana que permitiria que os comerciantes de sua plataforma aceitassem pagamentos em stablecoin em uma oferta desenvolvida pela Stripe e pela Coinbase Global.

A unidade Bridge, recentemente adquirida pela Stripe, também oferece uma plataforma que ajuda as empresas a lançar suas próprias stablecoins.

O interesse e o potencial ficaram em evidência ainda maior com o concorrido IPO da Circle Internet Group, plataforma emissora da stablecoin USDC, atrelada ao dólar e a segunda maior do mercado. As ações subiram 330% desde a estreia na NYSE, a Bolsa de Nova York, no último dia 5.

Embora a liquidação instantânea para os comerciantes pareça atraente, não é uma mudança útil se os comerciantes não puderem usar as stablecoins para pagar fornecedores ou executar suas operações, disse Sanjay Sakhrani, diretor istrativo e analista sênior da Keefe, Bruyette & Woods.

A PayPal Holding tenta resolver essa preocupação criando uma plataforma que ajude os comerciantes a pagar seus fornecedores no exterior em stablecoin.

Outro obstáculo importante que as stablecoins enfrentam nas transações de varejo é convencer os consumidores de que há uma vantagem significativa sobre os cartões que eles estão acostumados a usar - por décadas - e, no caso de produtos de crédito, permitir que eles ganhem recompensas.

As stablecoins também exigem que os consumidores tenham carteiras de criptomoedas que, muitas vezes, precisam ser configuradas por meio de plataformas de terceiros, como MetaMask ou Coinbase Wallet, e acrescentam atrito à experiência de compra.

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“O preço e o tempo de liquidação são realmente benéficos para o comerciante, mas não significam muito para o consumidor”, disse Sakhrani, da KBW.

A legislação histórica da stablecoin que está em andamento no Senado americano ganhou o apoio entusiasmado de varejistas ansiosos para explorar o potencial da tecnologia como moeda de troca em negociações para obter taxas mais baixas das redes incumbentes ou para contorná-las completamente.

O método de pagamento alternativo que reina é o pay-by-bank, uma categoria de produtos que permite que os consumidores paguem os comerciantes diretamente de suas contas bancárias, sem usar um cartão de crédito ou débito.

O Walmart emergiu como líder nessa categoria e, no ano ado, anunciou uma oferta atualizada de pagamento por banco.

No Brasil, guarda semelhanças - mas também diferenças - com o Pix dado que o consumidor não a pelas redes tradicionais que cobram taxas do comerciante, dado que o sistema é centralizado pelo Banco Central.

A fintech Plaid também avança na categoria de pagamento por meio de banco, e uma oferta da Visa para adquirir a empresa foi abandonada em meio a uma prolongada briga antitruste com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Isso porque havia preocupações de que a rede estivesse tentando eliminar um concorrente nascente de seu negócio de débito online.

Um porta-voz do Walmart não quis comentar a reportagem do Wall Street Journal. Os representantes da Amazon não responderam aos pedidos de comentários.

Apesar dos esforços de longa data para popularizar uma alternativa aos pagamentos com cartão, o pagamento por banco demorou a ganhar força nos Estados Unidos e deixou um “cemitério de tentativas” em seu rastro.

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A Merchant Customer Exchange (MCX), por exemplo, estava por trás de um esforço de um consórcio de varejistas dos EUA, incluindo o Walmart e a Target, que não conseguiu uma adoção generalizada antes de ser adquirida pela JPMorgan Chase há quase uma década.

O longo histórico de tentativas de popularizar o pagamento diretamente pelo banco pode prenunciar alguns dos obstáculos à adoção da stablecoin.

“Qualquer novo sistema terá seus desafios, seus riscos, seus custos, e as stablecoins estarão sujeitas a essas mesmas forças”, disse Scott Talbott, vice-presidente executivo da Electronic Transactions Association.

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