Brasil deve virar destino de carros antes enviados aos EUA, avaliam importadoras
Em entrevista à Bloomberg Línea, Marcelo Godoy, presidente da associação que representa o setor, diz que concorrência deve se intensificar com guerra comercial, em particular no segmento
Para importadoras, guerra comercial deve intensificar entrada de carros no Brasil |Carros da BYD: aumento da competição no mercado brasileiro já começou no ano ado com o avanço de marcas como a chinesa(Bloomberg/Maira Erlich)
Bloomberg Línea — Com a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e outras potências, a competição no mercado automotivo deve crescer no Brasil, segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), Marcelo Godoy.
Segundo o dirigente, o fenômeno já vinha ocorrendo desde o ano ado, mas deve se intensificar com o avanço das tensões principalmente entre Estados Unidos e China.
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“O aumento da competição já é um fato no Brasil, mas com a super taxação [do governo americano] a tendência é a de acirramento dessa disputa. Os carros que eram exportados da Europa ou do México para os Estados Unidos podem vir para o Brasil. No segmento , isso certamente vai ficar mais evidente”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.
Em sua avaliação, mesmo que a taxação por parte do governo americano volte a ser o que era antes - ou seja, com eventual recuo de Trump -, a competição deve continuar a crescer no Brasil.
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“Dos mercados com mais potencial no mundo, o Brasil é, de fato, um dos maiores: combina grande potencial de crescimento com uma penetração ainda muito baixa. A competição veio para ficar.”
Godoy afirmou que o consumidor de carro importado tem mais poder aquisitivo e, no geral, é menos suscetível a oscilações de preços.
Por outro lado, disse que, com o dólar estável em um patamar elevado no Brasil - tem oscilado na faixa de R$ 5,70 a R$ 5,90 nos últimos meses - e em um cenário de forte competição, montadoras com importados não estão reando integralmente esse aumento de custo ao consumidor.
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“As empresas estão segurando um pouco as margens e muitas estão trabalhando com estoques para minimizar essa flutuação”, disse o dirigente, que no Brasil é CEO da Volvo Cars.
“Falo pela Volvo, mas também no geral: as associadas seguem o mesmo racional e tentam rear o mínimo para o consumidor. Se ficar muito no ‘sobe e desce’, o cliente perde a referência e evita a compra”, acrescentou.
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No primeiro trimestre de 2025, as vendas de carros importados atingiram 27.400 unidades no país, o que representou uma alta de 33,9% sobre o mesmo período do ano ado.
Somando os veículos produzidos no Brasil pelas associadas, os emplacamentos alcançaram 27.700 unidades no trimestre, avanço de 32,8% na mesma base de comparação, de acordo com a Abeifa.
Para o presidente da Abeifa, Marcelo Godoy, o Brasil sempre foi um mercado visado pelas marcas globais
Do volume registrado pelas associadas, 25.500 foram de modelos eletrificados.
“O carro elétrico não é para todo mundo, mas vai caber para muita gente. O elétrico caiu no gosto do brasileiro”, disse Godoy.
O executivo afirmou que o mercado brasileiro a por uma importante fase de transição rumo à eletrificação, assim como o restante do mundo. Esses modelos já representam 9,8% do total de emplacamentos no país, dado que considera os volumes produzidos localmente.
Ainda de acordo com a Abeifa, cerca de 50% dos veículos eletrificados comercializados no país são de marcas importadas.
Expectativas para o ano
A associação projetou, no início do ano, um crescimento de 10% e 12% para o setor de veículos importados em 2025. “No primeiro trimestre, o desempenho foi até melhor do que o esperado.”
A Abeifa está otimista para 2025 e, por ora, mantém as projeções para o ano. No entanto Godoy afirma que é preciso monitorar os efeitos da guerra comercial e do cenário macroeconômico no Brasil.
“O primeiro trimestre foi encorajador, mas no segundo semestre já devemos entrar em uma espécie de ‘período eleitoral’. Alguns empresários podem postergar as compras”, disse.
Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem agens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.