Bloomberg Línea — Em um contexto marcado por volatilidade global, desaceleração do crescimento na China e incerteza fiscal e monetária nos Estados Unidos, os mercados acionários latino-americanos oferecem oportunidades de investimento atraentes.
Uma das métricas mais comumente usadas por gestores e analistas de ações para identificar ações subvalorizadas é o múltiplo Preço/Lucro (P/L). Esse índice permite identificar empresas que estão abaixo de sua lucratividade histórica e que, portanto, em tese podem representar oportunidades de investimento.
De acordo com uma análise comparativa realizada pela Bloomberg Línea com mais de 150 ações listadas nos principais índices do mercado acionário latino-americano, pelo menos vinte empresas apresentam um desconto de mais de 40% em comparação com seu P/L médio nos últimos cinco anos.
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A base leva em conta em dados compilados pela Bloomberg com preços na última quarta-feira (11).
“O forte desempenho das ações latino-americanas até agora em 2025 responde a uma combinação de fatores estruturais e cíclicos que reposicionaram a região como um destino atraente para os fluxos de investimentos globais”, disse Emanoelle Santos, analista de mercado da XTB Latam.

As ações mais baratas da América Latina
As oportunidades na região não são homogêneas: elas estão concentradas em setores cíclicos, como energia, materiais e infraestrutura, e em regiões geográficas com maior percepção de risco.
O múltiplo P/L, embora seja uma ferramenta básica, é um dos indicadores mais usados para avaliar ações.
Ele é calculado dividindo-se o preço de uma ação pelo lucro por ação (LPA), que pode ser uma projeção dos próximos 12 meses, e permite estimar quantas vezes um investidor está pagando pelos lucros futuros da empresa.
É importante observar que um P/L baixo, por si só, não garante um bom investimento.
Mas, quando esse valor atual está significativamente abaixo de sua média histórica e da média do mercado, isso pode sinalizar uma oportunidade de reavaliação.
Além do P/L, os analistas também analisam outros múltiplos, como EV/Ebitda, P/BV (Price-to-Book ratio) ou índices como ROE e ROIC, para uma avaliação mais abrangente.
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No universo de ações analisadas, o México aparece com casos de destaque, como o da Liverpool (LIVEPOLC), que atua no setor de varejo.
Atualmente, essa empresa é negociada a um P/L de 5,68 vezes, em comparação com uma média de 31,33 vezes nos últimos cinco anos, o que representa uma contração de mais de 80% em sua avaliação relativa.
Em um índice como o S&P BMV/IPC, cujo múltiplo atual é de cerca de 15 vezes, a diferença é ainda mais marcante.
Outro caso mexicano relevante é o da Genoma Lab (LABB), empresa farmacêutica que apresenta um desconto de cerca de 30% em relação à sua média histórica.
“Os valuations comparativamente baixos, após anos de desinvestimento e baixo posicionamento em portfólios internacionais, proporcionaram um ponto de entrada muito atraente para os investidores que agora procuram diversificar fora dos EUA”, acrescentou Santos.

No Brasil, a dispersão é maior, mas há oportunidades. Entre elas, a Prio (PRIO3), do setor de energia, destaca-se com um P/L atual de apenas 3,15 contra 11,02 historicamente, um desconto de 71%.
Outros nomes, como Vivara (VIVA3), Sabesp (SBSP3) e Eletrobras (ELET3 e ELET6), também estão abaixo da média, em um contexto em que os receios regulatórios e as expectativas de reforma fiscal no país deprimiram a confiança dos investidores.
Restante da região
O Peru é o país com a maior representação no ranking de ações com desconto.
A Engie (ENGIEC1), ligada ao setor de energia, é negociada com um múltiplo de apenas 6x, em comparação com uma média histórica de mais de 34x. Também se destacam a Minsur (MINSURI1) e a Unacem (UNACEMC1), do setor de cimento e mineração, respectivamente, com múltiplos de mais de 50%.
O índice S&P/BVL, que agrupa as principais ações peruanas, tem um P/L de apenas 10 vezes, o que reforça a tese de que o mercado acionário local está em um estágio de subvalorização generalizada.
Isso não ou despercebido entre as empresas locais: de acordo com o relatório de múltiplos mais recente da Intéligo, “a Unacem apresenta um potencial de [valorização de] 32,9%” e é negociada com um EV/EBITDA abaixo de seus pares regionais, o que é explicado pela “diversificação geográfica e foco na eficiência operacional”, o que lhe permitiu manter margens saudáveis.
A Colômbia apresenta um quadro misto, com vários papéis sendo negociados abaixo de seus múltiplos históricos, embora em menor grau do que em outros mercados.
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Ações como as da ISA (ISA), da GEB (GEB) e da Promigas (PROMIG) destacam-se por serem negociadas com P/Ls abaixo de 8x, o que, em alguns casos, reflete a defasagem do desempenho operacional dessas empresas no mercado.
O índice Msci Colcap (COLCAP) como um todo apresenta um P/L de 8,32 vezes, inferior à média regional.
Santos observou que os setores de energia e materiais na América Latina estão sendo negociados atualmente a múltiplos historicamente baixos.
“Esses setores enfrentaram uma desvalorização prolongada, em parte devido à sua alta sensibilidade cíclica e exposição a mudanças nos preços internacionais das commodities, como petróleo, minério de ferro e cobre”, acrescentou.
Na Argentina, o cenário é mais volátil, mas não sem oportunidades.
Embora o risco do país e as restrições cambiais ainda existentes mantenham o prêmio de risco elevado, há empresas que negociam a múltiplos historicamente baixos, mesmo em comparação com suas próprias médias.
Entre elas, a Inversiones y Representaciones (IRSA), a YPF (YPF) e a Transportadora de Gas del Sur (TGSU2) têm P/Ls abaixo de 11 vezes, com descontos de até 60% em relação à média de cinco anos. O índice MERVAL tem um P/L de 11,8 vezes.
Em seu último relatório sobre a região, o Bank of America observou que “as avaliações na América Latina permanecem pouco exigentes em relação ao histórico e a outras regiões”, reforçando a percepção de que muitas empresas da região continuam a ser negociadas a múltiplos depreciados, apesar de sua resiliência operacional.
No caso específico do Brasil, o BofA afirma que “a região continua sendo uma das mais baratas do mundo, com o mercado amplo sendo negociado a 7,8 vezes o P/L futuro, em comparação com 13,6 vezes nos mercados emergentes”.
O banco também observou uma mudança na composição do apetite dos investidores: “A América Latina está se beneficiando dos ventos das commodities e da rotação dos investidores para mercados subvalorizados e com altos dividendos”.
Ele conclui que “o valor continua a superar o crescimento na América Latina, apoiado por energia, finanças e materiais”.
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