Bloomberg — A Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados) concordou em aumentar a produção de petróleo pelo terceiro mês consecutivo, apesar das ressalvas de seu principal membro, a Rússia.
A medida dobra a aposta da organização em uma mudança histórica de sua política que fez com que os preços do petróleo afundassem.
As nações produtoras de petróleo lideradas pela Arábia Saudita concordaram, durante videoconferência realizada este sábado (31), em adicionar 411.000 barris por dia ao mercado em julho, de acordo com uma declaração publicada no site do grupo. A elevação corresponde aos aumentos programados para maio e junho.
“A Opep+ não está mais sussurrando”, disse Jorge Leon, analista da Rystad Energy, que trabalhou anteriormente no secretariado da Opep. “Maio deu a entender, junho falou claramente e julho veio com um megafone.”
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As autoridades dizem que os aumentos na oferta refletem o desejo da Arábia Saudita de punir membros com excesso de produção, como o Cazaquistão e o Iraque, além de recuperar a participação de mercado perdida para os perfuradores de xisto dos Estados Unidos e outros rivais, e também satisfazer o desejo do presidente Donald Trump por petróleo mais barato.
A medida oferece alívio aos consumidores à medida que o hemisfério norte entra em sua temporada de pico de demanda, além de ajudar os bancos centrais que lutam contra a inflação persistente.
No entanto, o impacto no mercado cria um risco financeiro para os produtores de petróleo de todo o mundo, que podem enfrentar um período de preços baixos prolongados.
Ressalvas
Vários membros expressaram ressalvas durante a reunião de sábado sobre a velocidade com que a Opep+ estava aumentando a produção. A Rússia, a Argélia e Omã queriam uma pausa nos aumentos, disseram os delegados que falaram à Bloomberg News, pedindo para não serem citados porque a informação era privada.
A diferença de pontos de vista entre Moscou e Riad, os dois membros mais poderosos do cartel, voltará à tona em 6 de julho, quando os membros do grupo se reunirão novamente para discutir os níveis de produção para agosto.

O petróleo caiu brevemente para uma baixa de quatro anos, abaixo de US$ 60 por barril, em abril, depois que a Opep+ anunciou pela primeira vez que aumentaria a produção em três vezes o valor programado.
A medida foi tomada mesmo depois que a demanda enfraquecida e a guerra comercial de Trump fizeram os preços caírem.
Embora os futuros do Brent tenham se recuperado desde então, sendo negociados perto de US$ 64 por barril, o Fundo Monetário Internacional estima que os sauditas precisem de preços acima de US$ 90 para cobrir os planos de gastos luxuosos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
O reino enfrenta um déficit fiscal crescente e foi forçado a cortar investimentos em projetos importantes, como a cidade futurista de Neom.
Os mercados podem considerar o acordo de sábado como ligeiramente positivo porque, antes das negociações, “havia algumas preocupações quanto a um aumento ainda maior”, disse Giovanni Staunovo, analista de commodities do UBS Group.
Se a estratégia de Riad é disciplinar as fraudes nas cotas do cartel por meio de um “suor controlado”, parece que não está funcionando.
O Cazaquistão, o infrator mais flagrante, continua a exceder seus limites em várias centenas de milhares de barris por dia e declarou publicamente que não tem planos de se redimir.
O ministro da Energia do país, Yerlan Akkenzhenov, disse aos repórteres na quinta-feira (22) que não pode impor cortes aos parceiros corporativos internacionais nem reduzir o consumo nos campos estatais.
No entanto, a desaceleração está afetando o coração do petróleo de xisto dos Estados Unidos, onde empresas como a Diamondback Energy afirmam que a produção atingiu o pico, apesar da promessa de Trump de que o país iria “perfurar, perfurar, perfurar” em um novo boom de energia.
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Demanda de verão
Com o aumento da produção programado para julho, a Opep+ estará na metade do caminho de um roteiro para reavivar a produção de 2,2 milhões de barris por dia que havia sido paralisada nos últimos anos - um processo que foi planejado anteriormente para durar até o final de 2026.
Nos próximos meses, o grupo decidirá com que rapidez restaurará o restante dos suprimentos que ainda está retendo do mercado.
Para alguns analistas, o aumento da oferta é totalmente lógico. A demanda aumentará nos próximos meses nos Estados Unidos, à medida que os motoristas pegarem as estradas para as férias de verão no meio doano, e também no Oriente Médio, onde o pico de uso do ar condicionado significa que alguns barris serão consumidos internamente.
“Os fundamentos no aqui e agora são sólidos - os estoques estão muito baixos”, disse Amrita Sen, diretora de pesquisa da consultoria Energy Aspects em uma entrevista à Bloomberg News antes da reunião. “É um bom momento para a Opep+ adicionar barris ao mercado, portanto, não vejo por que não o fariam.”
No entanto, é possível que haja mais perdas de preços. O JPMorgan prevê que os futuros do Brent cairão para a “casa dos US$ 50” ainda este ano, já que os aumentos do cartel contribuem para um excesso de oferta global de mais de 2 milhões de barris por dia.
-- Com a colaboração de Ben Bartenstein e Salma El Wardany.
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