Na Espanha, excesso de oferta de energia solar derruba o preço para abaixo de zero
Preços no atacado despencam diante do excesso de oferta e tiram a viabilidade econômica de alguns projetos, segundo estudo da consultoria Aurora Energy Research
Na Espanha, excesso de oferta de energia solar derruba o preço para abaixo de zero |Trabalhadores em instalação de energia solar em Barcelona: país vive momento de excesso de capacidade de geração(Bloomberg/Angel Garcia)
Bloomberg — Um excesso de oferta de energia solar na Espanha fez com que os preços ficassem tão baixos neste ano que alguns projetos podem não ser construídos devido à queda na lucratividade, de acordo com a Aurora Energy Research.
O excesso de produção solar é tão grande que um aumento no armazenamento com novas baterias pode não ser suficiente para melhorar totalmente a perspectiva econômica do mercado, disse a empresa britânica em um estudo.
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Um aumento na geração de energia limpa em toda a Europa “inundou levandoas redes nos últimos meses, muitas vezes empurrando os preços da eletricidade no atacado para abaixo de zero.
Embora isso possa ser benéfico para os consumidores no curto prazo, corre o risco de ameaçar a viabilidade de longo prazo de alguns projetos fotovoltaicos.
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As baterias são vistas como fundamentais para absorver o excesso de geração durante o dia e distribuí-lo à noite, pois reduzem a necessidade de backups de combustíveis fósseis e, em última análise, estabilizam os preços.
O excesso de oferta na Espanha tem levado as “taxas de captação solar” - os preços médios que os geradores conseguem obter em comparação com o preço médio geral da energia - a cair significativamente, “o que reflete um problema crescente de canibalização à medida que a construção solar continua” e que o armazenamento pode atenuar apenas parcialmente, de acordo com a Aurora.
O relatório chega à sua conclusão com a comparação do país mediterrâneo com a Califórnia, onde ambos os mercados obtêm cerca de metade de sua energia de fontes renováveis.
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No entanto, embora as baterias ainda representem um setor pequeno na Espanha, o estado americano já adicionou 11,2 gigawatts de armazenamento até o momento.
Isso não neutralizou completamente a queda acentuada de preços decorrente do excesso de oferta e oferece um vislumbre do que pode acontecer na Espanha, disse Aurora.
No país europeu, que recebe muita luz solar, os preços da energia em abril caíram para o nível mais baixo em 11 anos.
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O governo pretende adicionar 12,5 gigawatts de baterias e armazenamento termo-solar até 2030, comparável à capacidade atual da Califórnia, cuja área e população são semelhantes às da Espanha.
Em 2023, o estado americano precisava de uma produção constante de 25 gigawatts em média para atender à demanda em qualquer momento do dia ou da demanda, em comparação com 26 gigawatts na Espanha, de acordo com cálculos da Aurora. Até o final deste ano, tanto a Espanha quanto a Califórnia terão mais de 35 gigawatts de capacidade instalada de energia solar fotovoltaica.
Embora as baterias na Califórnia tenham ajudado a mitigar a canibalização, “o sistema ainda enfrenta desafios decorrentes do excesso de oferta”, apontou o relatório. Isso poderia ser replicado na Espanha, onde se espera que os investimentos “mudem para o armazenamento”, disse Aurora.
Ainda assim, enquanto 98% do pipeline de 162 gigawatts de projetos fotovoltaicos da Califórnia são co-localizados com baterias, na Espanha esse é o caso de apenas 3,8% dos 76 gigawatts de projetos planejados.