BofA vê perda de fôlego da economia no Brasil e corte da Selic em dezembro
Equipe de pesquisa econômica do Bank of America avalia que a atividade deve desacelerar no segundo semestre diante de condições financeiras mais apertadas
BofA vê perda de fôlego da economia no Brasil por condições financeiras apertadas |Centro de São Paulo: taxas de juros reais subiram 2,60 pontos percentuais desde maio de 2024. (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg)(Bloomberg/Victor Moriyama)
Bloomberg Línea — O Bank of America avalia que as condições financeiras se tornaram mais apertadas nos últimos 12 meses no Brasil e projeta que a economia enfrentará uma desaceleração no segundo semestre de 2025.
Nesse ambiente, a a equipe de pesquisa econômica do banco prevê que o Banco Central poderia iniciar em dezembro os cortes da taxa básica de juros, a Selic, de acordo com relatório divulgado nesta segunda-feira (2).
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“Esperamos que a atividade desacelere no segundo semestre de 2025, já que as condições financeiras estão apertadas há um longo período e o estímulo fiscal é menor do que vimos no final de 2023 e início de 2024”, dizem os analistas do BofA, liderados por David Beker, no relatório.
A análise do banco se baseia não apenas nas taxas de juros praticadas no país e na Selic, mas também em um conjunto de sete variáveis econômicas que compõem o indicador de condições financeiras criado pelo próprio Banco Central - incluindo câmbio, preços de commodities, cotação do petróleo, nível do risco-país, e índices de ações.
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O relatório destaca que as taxas de juros reais subiram 2,60 pontos percentuais desde maio de 2024, alcançando patamares acima de 7% e permanecendo bem superiores a 5%, considerado como o patamar de juro neutro pela autoridade monetária (aquele que não desacelera nem estimula a atividade).
O BofA aponta que as expectativas de inflação começaram a acelerar em maio de 2024, levando os contratos de juros futuros de um ano a saltar de 10,5% ao ano para 14,5% no período.
As preocupações fiscais também pesaram sobre a cotação do dólar, que subiu de R$ 5,15 para R$ 5,70 por dólar, sem recuperar os níveis anteriores mesmo após a melhora registrada no início de 2025.
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“Um melhor sentimento local e altas taxas de juros locais ajudam a explicar a valorização do real após a desvalorização de dezembro de 2024, mas o real não retornou aos níveis anteriores devido a preocupações fiscais”, dizem os analistas no documento.
Por outro lado, alguns elementos funcionaram como atenuantes para as condições financeiras. A queda de 22% nos preços do petróleo Brent e WTI beneficiou a economia brasileira, sensível aos custos de energia e transporte.
Além disso, os mercados de ações apresentaram desempenho positivo tanto no Brasil quanto em outros países emergentes. O Ibovespa se beneficiou da perspectiva de que a América Latina pode ganhar com as incertezas comerciais criadas pelas tarifas do presidente Donald Trump.
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O movimento nos mercados de capitais ofereceu algum alívio às condições financeiras no Brasil.
Um fator adicional de aperto, no entanto, veio da decisão do governo Lula que elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Embora a medida tenha sido questionada no Congresso desde estão, ela aumentou a tributação sobre empréstimos bancários para empresas de 1,88% para 3,95%, representando custo adicional para o setor produtivo.
O Bank of America considera que “isso fortalece o argumento para manutenção [da Selic no atual patamar de 14,75% ao ano] na próxima reunião do BC, em junho”.
É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.