Por que a Mantiqueira prevê que 2025 será um ano de salto na exportação de ovos

Os executivos Márcio Utsch e Murilo Pinto dizem à Bloomberg Línea que a empresa está preparada e que a indústria tem condições de realizar movimento semelhante ao já feito pelo setor de carnes

Ovos do grupo Mantiqueira
27 de Novembro, 2024 | 06:51 AM
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Bloomberg Línea — Maior granja do país em volume, a Mantiqueira realizou aquisições casadas com a sua estratégia de ovos de maior valor nos últimos anos e agora planeja nova expansão orgânica em 2025 com a expectativa de abertura de novos mercados para exportação, segundo seus principais executivos.

“O Brasil tem toda a condição de abastecer o mundo com o ovo, como já faz com carnes de porco e de frango, por exemplo. Os mercados do Oriente Médio, da Ásia e da África são bem importantes”, disse Murilo Pinto, diretor comercial e de logística da Mantiqueira Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Segundo informações da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os mercados da Guatemala e do Reino Unido também estão entre aqueles que podem se tornar abertos no ano que vem.

Para o CEO da companhia, Márcio Utsch, uma pré-condição para ar o mercado internacional já está atendida pela Mantiqueira, que é ser líder ou dispor de uma posição relevante no país. “O o ao mercado externo deverá ser feito pela geração de resultado mas também com absorção de conhecimentos necessários para ser um competidor relevante fora do Brasil”, disse Utsch à Bloomberg Línea.

O executivo, um dos mais respeitados do país, conduziu justamente o processo de internacionalização da Havaianas no período de quinze anos em que comandou a Alpargatas (2003 a 2018). Ele assumiu a Mantiqueira em fevereiro de 2023.

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O grupo Mantiqueira produz anualmente cerca de 4 bilhões de ovos e, neste ano, ocupou a décima posição no ranking mundial de produção dessa proteína. Em toda a América do Sul, a empresa apareceu em primeiro lugar. As vendas de ovos da marca Happy Eggs cresceram 30% neste ano.

Marcio Utsch, que comanda a Mantiqueira como CEO desde fevereiro de 2023 (Foto: Divulgação)

Atualmente, a companhia possui 16 unidades produtivas em seis estados: Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Paraná e Santa Catarina. Há ainda três plantas em processo de expansão em Lorena (SP), Formosa (GO) e São João Itaperiu (SC).

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Na Mantiqueira, hoje 5% dos ovos são destinados à exportação. Com a abertura de novos mercados, a empresa acredita que essa fatia possa gradualmente aumentar.

“Entre as ações previstas pela empresa nessa frente estão a abertura de novos mercados, bem como o fortalecimento dos canais já existentes e contratação de hedge cambial”, disse Murilo Pinto, que é filho do fundador da Mantiqueira, Leandro Pinto.

“Acredito que, por meio de acordos que foram sendo definidos ao longo do tempo, essas duas indústrias, de carne e de frango, andaram na frente. Mas a indústria do ovo tem condições de fazer o mesmo. É um movimento mais tardio de nossa parte”, afirmou o executivo.

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Sob a perspectiva de operação, os negócios do grupo acompanham os preços das principais commodities agrícolas - sobretudo soja e milho, que representam mais de 75% da composição da ração animal.

Segundo Pinto, os custos com ração somam 30% na folha do grupo, que criou uma diretoria específica para a compra dos grãos no melhor momento.

Além disso, despesas com maquinário - importado de países como Alemanha e Holanda -, equipamentos e tecnologia representam uma fatia considerável dos custos da empresa.

O potencial de crescimento da Mantiqueira de maneira consolidada tem respaldo em números gerais do mercado doméstico, para o qual a maior parte da produção é destinada.

Para 2024, a produção nacional pode chegar a 56,9 bilhões de unidades de ovos, segundo estimativas da ABPA. Um ano antes, a produção foi de 52,4 bilhões de unidades. Ou seja, um crescimento de 8,6% em volume.

As exportações, por outro lado, ainda representam uma fatia limitada do mercado: entre janeiro e outubro deste ano, o Brasil exportou 14.600 toneladas de ovos ao exterior. O número representou queda de 38,2% em relação ao mesmo período do ano ado, quando o país embarcou 23.600 toneladas.

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Do volume total exportado, o Chile despontou, em 2024, como o principal destino dos ovos brasileiros, com 6.300 toneladas, um crescimento de mais de 161% em relação ao ano anterior - o acordo de “pre-listing” firmado entre Chile e Brasil em 2023 foi um dos fatores que explicam o movimento.

Os EUA aparecem em segundo lugar para as exportações dos ovos brasileiros, com 1.700 toneladas, e os Emirados Árabes Unidos estão na sequência, com 1.600 toneladas.

Murilo Pinto

Foco em galinhas livres

Como parte da estratégia de crescimento, a empresa também tem ampliado os investimentos e a produção em ovos orgânicos, de maior valor agregado.

Em 2020, a empresa assumiu o compromisso de chegar à marca de 2,5 milhões de galinhas livres em cinco anos - e essa promessa foi cumprida em 2024, com um ano de antecedência. Segundo a companhia, até o fim deste ano, serão 3 milhões de galinhas livres no grupo.

A aquisição da Fazenda da Toca Orgânicos, do empresário Pedro Paulo Diniz, em fevereiro de 2023, também contribuiu para esse movimento de sofisticação do portfólio.

Na Mantiqueira, a marca Happy Eggs representa 15% da produção, enquanto os ovos orgânicos da Fazenda da Toca respondem por 5% - o que significa, portanto, que 20% da produção da empresa é proveniente de galinhas livres.

A marca Mantiqueira (a principal da empresa) representa a maior fatia dos negócios, com 70%. Por fim, a marca Eggscelente, destinada ao cliente industrial com ovos líquidos, contribuem com 10%.

Há ainda a N.OVO, que nasceu como um braço de inovação do grupo em 2019. Na linha, há apenas produtos à base de plantas. Na foodtech, os primeiros produtos foram substitutos de ovos mexidos e omelete, mas há coxinhas e até uma “maionese” sabor bacon com ingredientes 100% feito de vegetais.

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“Não posso precisar quanto tempo vai demorar. Pode ser em 10, 15 ou 20 anos, mas nós, de fato, acreditamos que o futuro será 100% de galinhas livres”, disse Pinto.

Com a sofisticação dos processos produtivos, nasceram novas categorias e definições para os ovos. Aqui estão algumas mais comuns que aparecem nas gôndolas dos mercados:

  • Ovos comuns: as aves são criadas em gaiolas no chamado modelo convencional. A alimentação é balanceada com insumos como milho e soja;
  • Ovos de galinhas livres: animais ficam livres dentro do galpão, sem o ao campo;
  • Ovos caipira: quando os animais ficam livres nos galpões e podem ar o campo;
  • Ovos orgânicos: além de ficarem livres nos galpões e de arem o campo, também se alimentam de ração orgânica. Basicamente, o ovo orgânico é o caipira que come ração orgânica;

Pinto disse que novos segmentos - e categorias - são importantes na estratégia de produto diante da tendência de aumento das exigências dos consumidores finais.

“Temos dobrado a produção ano após ano, e o consumidor vem fazendo esse movimento conosco, ou seja, aceita pagar a mais para ter um ovo Happy Eggs ou da Fazenda da Toca na mesa dele”, disse.

Do ponto de vista de distribuição, os ovos e os demais produtos da Mantiqueira estão presentes nas gôndolas de supermercados e em três lojas físicas da companhia em São Paulo, nos bairros de média-alta renda de Moema, Brooklin e Chácara Santo Antônio, e uma no Rio de Janeiro, em Copacabana.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula agens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.